APRESENTAÇÃO
Após o CONGRESSO OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES 20 ANOS, realizado em 2018, vários eventos vêm impactando a nossa agenda de pesquisa por expressarem mudanças consideradas disruptivas em razão das suas múltiplas dimensões acontecendo simultaneamente, a sua velocidade e dos impactos gerados no presente e no futuro. Algumas resultam da aceleração de tendências estruturais já em curso há algum tempo, outras emergindo da conjuntura criada pela conexão entre crise sanitária, crise econômica, crise política e crise social. Tais mudanças disruptivas têm origem nas escalas global e nacional.
Na escala global elas decorrem da aceleração das tendências surgidas nos anos de 1970 de crise estrutural do capitalismo ocidental resultante dos efeitos da dominância financeira-rentista e da crise também estrutural da hegemonia do poder americano nas relações geopolíticas e as suas consequências no acirramento das rivalidades interestatais. No plano brasileiro, as mudanças disruptivas se fundamentam, de um lado, da ascensão ao poder de uma inusitada coalizão ultraliberal-ultraconservadora e seu projeto de ruptura radical com a agenda democrática-redistributiva que vinha se enraizando na sociedade brasileira desde 1988. Por outro lado, do aprofundamento da crise econômica nacional com a sua expressão na estagnação, desindustrialização, no desemprego, aumento da desigualdade, retorno da expansão da pobreza, entre outras dimensões. Soma-se, ainda, a erupção da pandemia da COVID-19 que além de aprofundar aquelas tendências, faz surgir no país um estado nacional de emergência gerando novas tendências de mudanças disruptivas, algumas como verdadeiros curtos-circuitos da concepção e da proposta ultraliberal de ajuste, como foi o caso da adoção do programa de transferência de renda em magnitude e grau de universalização completamente inesperados. Esta intervenção criou condições políticas e sociais para a discussão de uma política pública de renda cidadã e o surgimento de uma ampla coalizão parlamentar em torno deste tema. Na sociedade, o curto circuito se expressa pelo enfraquecimento da legitimidade moral da narrativa ultraliberal em torno da inevitabilidade das reformas pró-mercado.
Ingressamos, assim, em momento histórico de grande transição com suas incertezas e imprevistos. Isto significa que estamos desafiados do ponto de vista cognitivo na medida em que nas transições o presente é muito diferente do seu passado e mais ainda dos seus futuros possíveis. Ou seja, o futuro é aberto e ilimitado, mas talvez por esta razão mesma abra a possibilidade das escolhas coletivas exercidas no presente poderem influenciar os desdobramentos futuros das tendências em curso. Estamos confrontados, portanto, à difícil tarefa de conhecer as tendências presentes nestas mudanças disruptivas e colocar este conhecimento à disposição das dinâmicas das escolhas coletivas. A dificuldade é dupla: a primeira de natureza propriamente cognitiva, para entender o que estruturas e práticas emergentes impactam na opacidade e no caótico próprios das transições; a segunda dificuldade decorre do fato de que a interpretação das tendências em curso será necessariamente objeto de influências axiológicas resultantes dos conflitos morais, éticos e de interesses existentes na sociedade. Neste sentido, parece-nos que é inescapável assumir uma concepção de prática cognitiva visando a produção de um conhecimento orientado simultaneamente pelos princípios da verdade, do bem, do belo e do fazer.
No caso brasileiro e especificamente em nosso campo, a presente proposta do II Congresso Observatório das Metrópoles, com o título O FUTURO DAS METRÓPOLES E AS METRÓPOLES NO FUTURO, tem como objetivo duplo:
Desencadear a reflexão coletiva que nos ajude repensar a nossa atual agenda de pesquisa a partir da construção de uma interpretação compartilhada sobre as mudanças disruptivas em curso, que possa orientar a finalização do nosso atual programa de pesquisa e fundar o novo ciclo de produção de conhecimento do Observatório das Metrópoles.
Pensar essa produção e sua divulgação como estratégia de intervenção com a intenção de influenciar as escolhas coletivas, a partir da retomada e afirmação da plataforma cognitiva-moral-ética democrática e redistributiva em contraposição à ultraliberal-ultraconservadora.
Desencadear a reflexão coletiva que nos ajude repensar a nossa atual agenda de pesquisa a partir da construção de uma interpretação compartilhada sobre as mudanças disruptivas em curso, que possa orientar a finalização do nosso atual programa de pesquisa e fundar o novo ciclo de produção de conhecimento do Observatório.
Pensar essa produção e sua divulgação como estratégia de intervenção com a intenção de influenciar as escolhas coletivas a partir da retomada e afirmação da plataforma cognitiva-moral-ética democrática e redistributiva em contraposição à ultraliberal-ultraconservadora.
Trata-se de orientar o nosso programa de pesquisa e intervenção para entender a possível aceleração da transformação na ordem urbana das metrópoles brasileiras na direção de sua mercantilização sob a dominância financeira e suas dinâmicas de desindustrialização, reprimarização, extrativismo, etc. Em suma, a nossa principal missão será a de reconstruir e fortalecer a plataforma de conhecimento-ação em torno da metrópole do urbanismo do bem-estar, da inclusão e da democracia para se contrapor à agenda da metrópole dos negócios e do urbanismo da austeridade e da militarização.
Para dar conta desses objetivos, planejamos uma sequência de eventos ao longo do ano de 2021 que estão encadeados e estruturados em torno da proposta de reflexão coletiva sobre o futuro:
O primeiro desses eventos, o Seminário “O Direito à Cidade em Tempos de Inflexão Ultraliberal”, ocorrerá entre os dias 05 a 20 de abril de 2021.
Em 2020 houve uma inflexão profunda nas dinâmicas urbanas e regionais. Além das desigualdades já conhecidas nos países da periferia do capitalismo, como é o caso do Brasil, ampliou-se algumas problemáticas decorrentes da crise sanitária/econômica/social imposta pela pandemia de COVID-19. No campo acadêmico, muitas pesquisas adicionaram camadas de temas a serem estudados pelos pesquisadores, em virtude de novas relações impostas pelo novo cenário mundial e local.
Além dessa mudança de curso na vida particular e no campo acadêmico, no ano de 2020 também foram realizadas as eleições municipais, que despontaram para novas formas de governo em nível local pelos próximos anos. Ademais, no futuro, nos próximos dois anos, em 2022, estaremos no último ano de pesquisas do atual Programa de Pesquisa do INCT Observatório das Metrópoles, e, portanto, de finalização dos projetos em andamento, coincidindo com as eleições para o legislativo e executivo nas esferas estaduais e federais.
Diante disso, enfrenta-se o desafio de produzir pesquisas que dialoguem com esse contexto e incidam sobre o debate público. O Seminário, com isso, mostra-se como um momento que pretende conciliar essas pautas.
COMISSÃO ORGANIZADORA
Thais Velasco
Tuanni Borba
Karoline Souza
Juciano Rodrigues
Samuel Jaenisch
Jessica Lôro
Paula Guedes
Brunno Costa
Amanda de Almeida
Renata Salles
COMITÊ CIENTÍFICO
Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro (UFRJ)
Adauto Lúcio Cardoso (UFRJ)
Jupira Gomes de Mendonça (UFMG)
Juciano Rodrigues (UFRJ)
Lívia Izabel Bezerra de Miranda (UFCG)
Luciana Correa do Lago (UFRJ)
Luciano Joel Fedozzi (UFRGS)
Luis Renato Bezerra Pequeno (UFC)
Marcelo Gomes Ribeiro (UFRJ)
Maria do Livramento M. Clementino (UFRN)
Orlando Alves dos Santos Junior (UFRJ)
COMUNICAÇÃO
Tuanni Borba
Laura Pechman
Diene Lemos
IDENTIDADE VISUAL
Thais Velasco
Renato Tupinambá
SITE
Felipe Macedo